sexta-feira, 31 de julho de 2009

Conclusão da oficina de telejornalismo ministrada por Robson Fraga


Joyce Trindade, Rosária Farage, PC Jr., Robson Fraga, Marco Aurélio,
Laila Wajntraub, Diogo Moraes e Claudia Magalhães

Chegamos ao final de mais um curso prático de Telejornalismo, no Rio de Janeiro; desta vez coordenado pela Rio Press. Durante 11h/aula, pudemos relembrar uma parte da história do telejornalismo, discutir pautas, pesquisa e ética. Treinamos técnicas de entrevista, impostação de voz, redação e locução para telejornal, além da construção de video-tapes e entradas ao vivo. Vivemos intensamente os desafios da reportagem. Cada aluno gravou dois VTs que podem ser apresentados como portfólio.

Acredito que alcançamos êxito e cumprimos nossos objetivos. Fico feliz em saber que ao lado do cinegrafista Marco Aurélio pude contribuir para a formação destes novos profissionais do jornalismo carioca e confirmar ainda mais a necessidade da formação profissional. Veja o que alguns alunos acharam do curso:

- Quero muito trabalhar; construir minha carreira nesta área do telejornalismo. Espero chegar lá um dia. Já fiz curso de telejornalismo na Escola de Rádio, com o Guilherme Cardoso (um dos apresentadores do EM CIMA DA HORA, da Globo News). Foi muito bom, aprendi bastante! Com vc foi um reaprendizado excelente, Diogo Moraes.

- Achei você um excelente professor; aquele que sabe fazer, conhece bem o assunto e sabe transmitir. Acredito que pode continuar esse trabalho sem medo de ser feliz, Rosária Farage.

- Bom, quanto ao curso de telejornalismo gostei muito. Acredito que o embasamento teórico do primeiro dia foi essencial para que pudéssemos desempenhar bem as atividades práticas. Teria gostado ainda mais se o curso fosse mais longo, para que houvesse oportunidade de produzir mais de uma reportagem, afim de não cometer os erros cometidos na primeira. É isso. Grande abraço e até a próxima, Sabrina Onzi.

- Parabéns, Robson. As aulas fizeram com que eu tivesse mais sede em conhecer o telejornalismo. Adorei!!!!, Paulo Cézar Junior.

- Gostei muito do curso. Foi um pouco difícil porque não sou nem jornalista nem estudante, mas aprendi coisas importantes de postura, impostação de voz e técnicas de reportagem que não fazia idéia que existia. Não entendo como podem ter tirado a exigência do diploma, não dá pra sair por aí dizendo que é jornalista só da boca pra fora.Tem muita coisa que aprender em sala de aula e se eu tinha alguma dúvida da importância de um diploma emoldurado na parede se dissipou nessas três noites que passamos juntos. Foi muito bom, pena que foi tão pouco tempo. Achei sua didática muito boa, Claudia Magalhães.




Diogo Moraes, Rosária Farage, PC Jr., Robson Fraga,
Marco Aurélio e Laila Wajntraub


Marco Auréilo, Robson Fraga, Rosária Farage e Laila Wajntraub


Marco Aurélio, PC Jr., Rosária Farage


Marco Aurélio e Laila Wajntraub


Marco Aurélio e Joyce Trindade


Marco Aurélio e Claudia Magalhães


Marco Aurélio, Robson Fraga e Claudia Magalhães

Robson Fraga e Marco Aurélio

domingo, 19 de julho de 2009

Amigo

Há dias em que nada tem graça:
A lua brilha sem luz,
O Sol arde sem queimar,
E a água não mata a sede.

Tudo a nossa volta é vazio.
As palavras não se encaixam,
Os pensamentos são fúteis,
A vida treme no fio da navalha.

Os livros já não tem mais significado.
Os discos não conseguem aconchegar...
A tela do micro é uma pedra de gelo
E o carteiro se esquece de chamar à porta.

As curvas da estrada já não dão emoção.
O ronco do carro agora é barulho!
O locutor é um chato desmedido
E nem mesmos as propagandas conseguem fazer sinal.

Estamos cercados da mesmice!
A casa é mesma,
O corpo ao lado é só corpo,
A bagunça na sala já não traz alegria.

A solidão parece um caminho.
O roleta russa uma obsessão!
Mas na hora do gatilho, o último sentido:
A voz do amigo.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Tempo


Por que parar o tempo?
Não é dele a culpa dos nossos atropelos
Da insensatez em dizer o que nos vêm
Sem antes repensar a palavra

Por que parar o tempo?
A terra continua girando
As flores teimam em respirar
E a vida ressurge sobre as mágoas

Por que parar o tempo?
O desrespeito ainda impera
Não ouvimos o vento
Ignoramos a inocência
Andamos sobre nuvens

Por que parar o tempo?
Acreditamos que a verdade é única
Que o outro é feio
Que o mundo é cruel
Que somos imbatíveis

Por que parar o tempo?
Insistimos em quebrar as regras
Não ouvimos os sinais
Somos quase Deuses

Por que parar o tempo?
Se não for pra reflexão
Pros ajustes finais
Pra agradecer à vida...

domingo, 5 de julho de 2009

Músculo


Músculo é força
Músculo é engrenagem
Músculo é selvagem

Músculo é apoio
Músculo é pressão
Músculo é tesão

Músculo é arte
Músculo é ofício
Músculo é tenro
Músculo é difícil

Músculo é sede
Músculo é gana
Músculo é desejo
Músculo é beijo

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Jornalista sim, mas com DIPLOMA



Responda se for capaz: é possível que um açougueiro ocupe a posição de cirurgião em um pronto socorro com a mesma destreza? E um pedreiro, pode ele ser o responsável técnico por uma edificação no lugar de um engenheiro? Então porque qualquer um com uma voz bonita, certo domínio da língua portuguesa e alguma flexibilidade ideológica pode ser considerado jornalista? Sim, porque estas características também podem ser encontradas tanto no açougueiro quanto no pedreiro, mas nenhum deles está qualificado para ocupar a posição de bacharel em comunicação.

Andando pela região Norte de Goiás é possível encontrar a cada esquina um novo jornalista. Seja em rádios, jornais ou nas televisões sempre há alguém respondendo pelas funções de repórter, redator, editor, chefe de reportagem, etc., enquanto inúmeros colegas passam quatro anos em uma graduação, outros mais na especialização, e o resto da vida no subemprego ou em funções diferentes da que escolheram seguir. Porque será que aturamos isso? Somos fracos, omissos ou apenas acomodados?

Para se ter uma idéia, a Organização Jaime Câmara, afiliada Globo, com repetidoras em Goiânia, em várias cidades do interior de Goiás e até no Tocantins, prefere contratar locutores-entrevistadores em lugar de jornalistas para o setor de telejornalismo. Sabem por quê? Porque assim pagam o mísero salário de R$ 1.147,00 somados a duas horas-extras fixas - e nenhum benefício a mais - ao candidato “morto de fome” que se obriga a aceitar tal proposta.

Infelizmente a legislação trabalhista e a falta de um sindicato da categoria formado por pessoas ocupadas em defender nossos profissionais permitem esta brincadeira. Qualquer cidadão em Goiás entra para TV por ter boa aparência, dicção controlada e um bom texto; o registro de radialista, comprado por míseros R$ 50, lhe concede o “título” de locutor entrevistador e o torna apto a manter a população do Estado “bem informada”!

Nas rádios a situação é ainda pior. Locutores de voz rouca e boa articulação vocal se tornam âncoras de programas jornalísticos sem qualquer preparo. “Nós faz” é pronúncia comum e, acreditem, considerada normal! Plural não existe; mesmo para um conjunto de idéias e ações o singular vai bem. O jornalismo se restringe a mostrar obras do poder executivo e a falar mal do legislativo. Sim, porque a arrecadação das emissoras vem em quase sua totalidade dos pomposos contratos feitos com as prefeituras. Diga-se de passagem: os acordos têm fins publicitários – pelo menos no papel - e não jornalísticos. Mas eles não sabem o que isso quer dizer.

A Rádio 104.7 FM, do grupo Paulo Chagas de Comunicação, por exemplo, tem cerca de 75% de seu faturamento pago pela prefeitura de Niquelândia. Sua concorrente, a rádio Mantiqueira 860 AM, vai mais longe: 80% do que entra vem da mesma prefeitura e esta rádio só transmite dentro do município! Os diretores das emissoras ocupam cargos de confiança na prefeitura em funções distantes do departamento de comunicação para desmascarar a falta de ética. Em 2005, durante o mandato de Joaquim Tomaz de Aquino, a coisa era mais feia: o dono da AM, Márcio Rocha, respondia pela chefia de assessoria de imprensa da prefeitura e o diretor da FM, Joster Alves, era o chefe do cerimonial. Sabem quanto ganha o “jornalista” nas rádios? Apenas R$ 684 de piso por serem considerados apenas locutores. Se quiserem ganhar mais precisam vender publicidade para as rádios em troca de 20% do valor do contrato.

Nas redações dos jornais - se é que podemos considerar periódicos mensais cheios de erros e ortografia e totalmente parciais, como jornais - a situação se repete. Geralmente as capas trazem as praças inauguradas, os “quilômetros” de asfalto refeitos em operações tapa-buracos e a pintura, chamada de reforma, das escolas municipais. Ou, ainda, os encontros entre deputados estaduais e federais com os prefeitos e vereadores da base como matéria principal. As manchetes geralmente informam a assinatura de ordens de serviço custeadas por repasses de verbas oriundos de emendas orçamentárias do legislativo. Mas estas obras nunca saem do papel. Entre os “jornais”, destaque para O Diário do Norte (que é semanal e diz cobrir cerca de 15 municípios em Goiás); Cidade, O Estadão e Correio do Povo (mensários em Uruaçu); Jornal Cidade (mensário em Porangatu); e Jornal do Interior (quinzenário em Niquelândia).

Posso falar disso sim. Aliás, posso denunciar estas práticas arcaicas, detestáveis e reprováveis porque durante 2,7 anos estive atuando em TV, rádio e em três jornais da região Norte de Goiás (repórter na TV Rio do Ouro, editor na rádio 104.7 FM, editor do Jornal do Interior e repórter no Diário do Norte e no Sem Fronteiras - o único imparcial. Como fui contratado no Rio de Janeiro, meu Estado de origem, cheguei a Goiás numa situação um pouco melhor que a dos colegas nascidos, criados e formados por lá. Além de um salário um razoável contava com benefícios como moradia e telefonia grátis. Mas resolvi dar um basta nisso tudo e voltei pra casa. Quem sabe daqui não consigo ser mais útil na árdua tarefa de tentar dar voz aos nossos colegas goianos!

Precisamos nos unir, meus caros! Peguemos como exemplo os metalúrgicos de São Paulo que, quando querem, param o Estado e até o País em busca de melhorias salariais e de benefícios trabalhistas. Porque nos calarmos se nossa função é comunicar? Vamos propalar aos quatro cantos a necessidade do diploma de bacharel; da consolidação de um Conselho Federal de Jornalismo ou de uma Ordem dos Jornalistas do Brasil, como ocorre com outras categorias. Vamos exigir que a Federação Nacional dos Jornalistas, a Fenaj, cumpra seu papel: denuncie; vá às ruas mostrar nossa indignação; bata às portas do Congresso em busca de soluções cabíveis e imediatas. Não podemos ser tratados assim! Sozinhos somos fracos, mas unidos podemos transformar o mundo!

Somos nós que mostramos aos brasileiros as mazelas do país e do mundo. Fazemos denúncias, desvendamos crimes contra pessoas e contra a ordem pública. Desmistificamos a economia para que todos saibam onde gastar o pouco que ganham. Traçamos o retrato fiel do “país do futuro”, mas necessitamos de respeito para ajudar o Brasil a ser a nação do hoje e sempre. Somos jornalistas e não podemos nos furtar de cobrar emprego, respeito profissional e defesa da categoria. Exigimos mudança já!

Precisamos tirar os deputados, senadores, prefeitos e vereadores da direção dos meios de comunicação porque são eles que impedem a mudança e preferem manter nossos empregos ocupados por outros profissionais; assim gastam menos e escondem a verdade nua e crua vivida diariamente pelos jornalistas do Brasil. Vamos lutar ou cruzar os braços e deixar os diplomas apenas enfeitando paredes? Alguém pode me responder?

Jornalismo: um meio para educar


Já virou rotina ouvir da boca de intelectuais renomados que a educação é o caminho para a mudança de atitude; que só com educação podemos deixar de ser “o país do futuro” e garantir uma cadeira de respeito na ONU; que a educação é o único meio capaz de livrar o jovem do crime; e que a educação é o viés de transformação político-social do mundo.

Muitos deles se arriscam em dizer que a miséria é fruto da desinformação originada pelo analfabetismo funcional, mesmo sem saber que isso não é uma construção gramatical, mas uma sentença de vida. Políticos, ditos “politizados”, vão mais longe ainda: afirmam, sem qualquer conhecimento de causa, que sem educação não há fome que chegue a zero! Mas por que será que não ouvimos falar por aí que educação só se constrói com informação de qualidade?

Ora bolas, precisamos entender de vez que informação sem conteúdo é como um livro com páginas em branco. Que nariz de cera só serve para servir aos interesses empresariais dos intelectuais acostumados a pôr a culpa da falência social brasileira na falta de educação, sem antes procurar uma saída. Precisamos entender que educar não é apenas criar vagas em escolas que simbolizam bandeiras políticas. Temos que entender que comunicar bem através de todos os canais e signos, contextualizando a informação, é antes de tudo, educar.

Ninguém precisa ir à escola para aprender onde começa e termina seu direito. Que respeito é moeda de troca no mercado social. Que muito obrigado às vezes é muito mais do que um simples agradecimento: é um poderoso veículo capaz de formar consciência social. Não podemos subestimar o próximo com linhas mal traçadas nos jornais; com imagens abertas que muito profissionais juram dizer tudo e muito mais do que palavras. Não podemos nos dar o direito de utilizar a democrática radiodifusão para confundir ou enganar as consciências mal formadas nos bancos escolares e nas sarjetas.

Precisamos nos guardar para o fato de que um livro deve ser entregue com a mesma empolgação com que se oferta um brinquedo ou flores. Não podemos deixar de marcar na memória de nossos filhos a imagem de um inicio de domingo regado por um bom café da manhã seguido de uma atenciosa conversa após a leitura de ao menos um jornal. Temos a obrigação, enquanto cidadãos de vanguarda, formadores de opinião, de reunir a família não só para acompanhar a novela preferida, mas para assistir e discutir as notícias veiculadas nos telejornais.

Atitude, companheiro, não é espera é ação. Informação, colega jornalista, nem sempre é noticia, mas noticia é sempre uma boa informação. Com jornalismo se faz educação e se forma uma sociedade política capaz de se tornar uma nação vitoriosa. É preciso estar atento, a cada segundo, ao mundo em nossa volta. O olhar crítico e pragmático faz de um comunicador social um jornalista. O acúmulo de experiência e a falta de soberba é o segredo da formação sócio-profissional. Não podemos nos envergonhar em não saber tudo, mas precisamos ter humildade para assumir nossas deficiências e primeiro perguntar, esmiuçar, entender, contextualizar e refazer para só depois informar. Essa é a única forma de fugir do grotesco e do antagônico.

Educar não é mera função de professores, é obrigação de cada um de nós comunicadores. Podemos errar sim, afinal somos seres-humanos. Mas temos que estar convictos de que corrigir o erro é tarefa imediata. Não podemos escrever errado, falar errado, nos portar de forma inconveniente e achar que está tudo bem. Precisamos assistir a nossos vídeos, ouvir nossas sonoras, ler e reler nossos textos. Ouvir e assimilar críticas. Acreditar que o outro pode sim ter razão. Não somos donos da verdade, mas colaboradores da formação humana.

A guerra de vaidades: assessores x repórteres


A guerra de vaidades que tomou conta da categoria de profissionais em jornalismo nas últimas décadas tem imposto regras que impedem a difusão de notícias e favorecem a indústria da venda de informação. De um lado assessores de imprensa que pensam que podem escolher sempre onde divulgar seu material. De outro, repórteres e editores que acreditam ser os mandatários dos veículos e os donos da verdade.

Vivemos, então, uma dicotomia burra. Repórteres e editores precisam de fontes ao mesmo passo em que assessores precisam de voz e de holofotes para seus clientes. A questão não está em saber quem beneficia quem, mas em ater-se a regra de que os dois lados fazem parte de uma só moeda: o jornalismo. Não se faz reportagem sem que se tenha informação. Não se publica “verdades e certezas” sem que se tenha veículo.

Esquecemos que os assessores mais experientes foram repórteres em redações de ontem. Fingimos não ver que as assessorias são hoje as grandes portas de emprego para jornalistas. Vivemos a estagnação das redações e a não renovação do quadro de pessoal. Os grandes veículos continuam a demitir profissionais todos os dias. Seja no Rio, em São Paulo ou Brasília, grandes capitais até ontem contratadoras de jornalistas, ou em cidades do interior do país, a grande manchete publicada versa: “Não há vagas.”

Precisamos deixar de acreditar que são sempre os outros que precisam de nós e de nossos produtos. Temos de lembrar que a via é de mão dupla: precisamos das assessorias porque queremos personagens e especialistas em temas variados a cada matéria que redigimos. Elas precisam de nós, caso contrário, estarão fadadas a feitura de house-organs e clippings. Precisamos viver a democracia da informação e da gestão editorial se quisermos, de fato, levantar bandeiras de ordem e progresso no jornalismo brasileiro.

Não podemos mais perder tempo com picuinhas baratas. A carência de informação de qualidade é comprovadamente fruto das guerras entre profissionais de comunicação. Eticamente aprendemos, nos bancos das faculdades, que a preservação da verdade, ainda que subjetiva, e a apuração de fatos através de fontes idôneas – se possível na investigação junto a especialistas, é fator primário a ser observado na apuração de qualidade.

Certa vez um professor de Redação e Edição de Jornais, das Faculdades Integradas Hélio Alonso (RJ), disse em alto e bom som: “jornalistas são profissionais desinformados quando recebem suas pautas, por isso, precisam da investigação detalhada e prudente da informação sugerida para que redijam com qualidade e isenção. Mais que isso, precisam a cada minuto se embriagar da leitura, ainda que de bulas de remédio. Precisam ser colegas para trocarem informações e detalhes. Uma pauta só se esgota quando diz a que veio. Informação, boa rede de relacionamento e prudência nunca são demais.”

Portanto, fica claro que precisamos uns dos outros. Somos todos farinha de um mesmo saco. Somos seres famigerados carentes de informação, fontes, verdades e de espaço para veiculação de nosso material. Fazemos parte de uma categoria que precisa aprender, o quanto antes, a se transformar em comunidade. Quando aprendermos a olhar para o outro com olhos de cobiça e não de enfrentamento poderemos dizer que aprendemos a ser jornalistas, estejamos em redações ou em assessorias.

Nem só de pão vive o homem


Parece lugar comum afirmar que cada povo tem o governo que merece tanto quanto dizer que a era do pão e circo está com os dias contatos. Como atribuir culpa a um povo desinformado? Como envidar teses sobre formas dicotômicas onde para cada dono do discurso sempre há uma platéia formada? Faz-se necessária, então uma análise mais profunda. Talvez a resposta para estas indagações esteja na própria primazia arcaica da política do coitado.

Vivemos uma sociedade onde muitas vezes há pão e nenhuma água que facilite a ingestão. Sobrevivemos sobre promessas de mudança, mas continuamos acreditando nos mesmos falastrões. Cobramos ideologias e opiniões firmes, mas não ensinamos a pensar. Cobramos linhas retas, palavras bonitas e combinadas em frases com sentido, mas sequer oferecemos a oportunidade de identificação das letras.

Não ensinamos o povo a ler, mas cobramos que todos os cidadãos conheçam as leis sob penas de prisão. Enjaulamos mortos de fome, mas não apresentamos a eles uma nova forma de saciar sua gula. Cobramos muito obrigado por migalhas oferecidas, mas esquecemos do simples bom dia àquele que vemos no primeiro piscar de pálpebras a luz do sol.

Nos achamos perfeitos, sabedores do mundo e donos da verdade, mas esquecemos que um dia alguém já provou ao mundo que não existe verdade absoluta. Não nos abrimos a conselhos, porque se fossem bons não nos dariam de graça. Não aceitamos subordinação porque a cada dia temos mais certeza de que sabemos mais que outro.

Vivemos a verdade única. Acreditamos em salvadores. Estamos convictos de que basta esperar ajuda que ela vem. Não nos mexemos para mudanças, estamos estáticos à espera de dias melhores. Acreditamos que somos coitados, nos alimentamos de promessas baseadas em análises tortas, mas como alegar inexatidão se não nos damos uma segunda chance?

Estamos tortos andando em caminhos retos. A direção é uma só, mas balançamos demais nas incertezas e na falta de coragem de dar um passo adiante. Não nos mexemos, permanecemos inertes. Apertamos os botões que nos apontam sem perguntar o porquê? Opções não faltam, mas pra que pensar?

Devíamos rever a vida. Folhear o passado e aceitar nossas deficiências. Tentar ouvir o que ficou para traz nos conselhos dos avós. Enxergar com os olhos da alma porque a carne é fraca e falha. Redescobrir caminhos por onde passamos sem nos dá conta das oportunidades que lá estavam.

Enfim, precisamos lembrar a quem dedicamos nossa confiança. Reavaliar se nos foi dado, ou se demos, o peixe ao invés da vara para pescar. Lembrar que para cobrar atitudes firmes é preciso ensinar a pensar. Lógica não se ensina, se ajuda a conseguir com exemplos diversos e soluções diferentes. Política não se faz com pão e circo, se faz com educação, trabalho e renda.

Quando aprendermos a identificar as letras, a concatenar palavras com sentido lógico, a interpretar atitudes e a excluir promessas vis de nosso dia-a-dia, nos tornaremos cidadãos. Quando aprendermos que sem educação nada se constrói, saberemos escolher representantes da sociedade. Quando descobrirmos que não existem salvadores da pátria e que não somos coitados relegados à espera de ajuda, saberemos em quem votar.

Então pra que esperar mais? As eleições de 2010 estão aí. Temos de arregaçar as mangas, pedir ajuda a quem nos ensine caminhos para análise. Precisamos levantar bandeiras que nos apontem alicerces firmes para o provimento de mudanças reais. Precisamos dizer que não agüentamos mais promessas que queremos atitudes, que queremos educação. Porque só com conhecimento poderemos mudar nossas vidas e alterar o rumo de nosso país.

A educação e a questão dos métodos


Já não é de hoje que procuramos desculpas para os baixos índices de qualidade aferidos na educação nacional. Há anos se fala da falta de qualificação do professor e nada se faz para mudar a situação. Questões relativas ao salário pago, quase que irrisório, são temas de debates em toda a América Latina e nenhuma solução definitiva é apontada e executada.

Também virou lugar comum apontar o dedo em direção à carga horária de aula, trazendo como válvula de escape a jornada integral para o aluno. Eba! Vamos dar a eles alimentos três vezes ao dia, esporte, lazer, etc. Ah, esquecemos que precisamos dar livros também. Pior, antes temos de ensinar o aluno a ler! Ih, mas isso dá muito trabalho e também educa! Como as velhas raposas vão continuar no poder?

O problema da educação passa, primeiramente, pela deficiência do método. Não adianta mais insistirmos em utilizar com os alunos da zona rural as mesmas técnicas ofertadas nas grandes capitais, por exemplo. É preciso atentar, como disse o velho e saudoso Darcy Ribeiro, aos regionalismos. Porque dizer que está errado pronunciar “eu vou mais ela” em lugar de “eu vou com ela”? Os dois não vão juntos, não é uma adição?

Precisamos dar alimentos aos que tem fome de comida, mas saciar, antes, a fome de cultura. Aprender ensinado, como disse Cora Coralina. Temos de entender que um piso nacional para professores dignificará o trabalhador sim, mas não garantirá educação de qualidade porque dependendo da região onde atua o professor esta gratificação não será capaz, sequer, de custear sua requalificação. Quiçá, conseguirá um colega mais distante conhecer Darcy, Cora, Paulo Freire, Machado e Eça de Queiroz.

Um estudo apresentado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, há dez anos atrás, na Câmara Federal, pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, indicou que o Brasil precisaria investir 5,3% do PIB para garantir uma educação de qualidade. Valor definido a partir de um levantamento elaborado em 2002 que revelava necessidade de se investir anualmente entre R$ 1.714 a R$ 4.140 por aluno, dependendo da série em que estivesse matriculado. Mas até agora continuamos aplicando diretamente aproximadamente R$ 900 por aluno nas regiões interioranas do Brasil. Até quando vamos continuar errando?

Naquela época, a coordenadora do estudo, Denise Carreira, propôs que o indicador servisse de referência para regulamentação do Fundeb que hoje já deixou de ser apenas um sonho. O novo fundo propõe uma gratificação mínima de R$ 1000 aos professores do ensino fundamental em todo o Brasil, o que segundo os educadores ajudaria a motivá-los a mudar o quadro horrendo da educação nacional. Além, disso, sugere que o investimento por aluno fique na casa de R$ 1.500, o que dignificaria a educação com investimentos em materiais, laboratórios e práticas extracurriculares. Agora, resta esperar que os homens de colarinho branco que comandam a educação nacional tomam vergonha e passem a perceber que cidadãos bem formados mudam a cara de um país subdesenvolvido que há anos espera que o futuro chegue mais cedo. Temos a faca e o queijo nas mãos. Precisamos apenas cortá-lo!

Brasil. O paraíso da corrupção


Depois de tanta luta finalmente chegamos a era em que um cidadão vindo do operariado assume a presidência do país e nos faz acreditar que não mais seremos paus mandados da elite engravatada e arrogante que durante anos geriu da forma que mais lhe convinha a administração do Brasil. Foi bom ver que o povo está consciente e que não vende mais seu voto em troca de santinhos ou dentaduras. Mas, infelizmente, nem tudo é perfeito. De repente, acordo e leio nas manchetes dos jornais que Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho voltaram ao Congresso Nacional. Pior ainda, ACM queria ser presidente do Senado. Há pouco tempo, tanto ele quanto o Barbalho renunciaram aos seus cargos, acusados de corrupção, para não se tornarem inelegíveis e agora voltarem para o mesmo lugar de onde saíram como se nada tivesse acontecido. Agora, ACM vive um novo dilema: ser cassação ou renúncia! Coisas do Brasil.

No Rio de Janeiro, foi desmascarado mais um corrupto que precisou de apenas três anos no governo para desviar alguns milhões de dólares dos cofres públicos para o exterior. Um tal de Silveirinha, fiscal da receita estadual. História que me remete aos velhos anões do orçamento. Lembram deles? Naquela ocasião, o fruto do roubo do INSS também havia sido mandado para paraísos fiscais como a Suíça. Grande parte daquele dinheiro até hoje não se conseguiu recuperar. Daquela corja fazia parte o deputado Francisco Alves que subjetivava minha inteligência dizendo que sua fortuna era fruto de muita sorte no jogo. Segundo ele, Deus o havia abençoado com várias premiações na Loteria Federal. Mais tarde veio o “Lalau”. Um juiz pago pelo povo para defender o Direito que não soube direito como explicar o desvio de verbas da construção do Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo.

Parei para pensar e vi que tudo continua como antes. Aqui no Rio de Janeiro os servidores fecharam os hospitais, as escolas e a universidade do Estado cobrando do executivo o pagamento do décimo terceiro salário que até hoje não saiu. A governadora Rosinha Matheus, culpa Benedita da Silva, sua antecessora, pelo déficit público causado pela má administração dos recursos estaduais. Mas Bené agora nem rebate as acusações, anda ocupada demais comandando um ministério “social” no governo federal. Enquanto isso, a CPI da corrupção instaurada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro sugere que o marido da Rosinha, o Garotinho, também tem culpa no cartório. Afinal, foi durante seus três anos de governo que a Inspetoria de Grandes Contribuintes foi criada, o que culminou com o desvio de R$ 33 milhões dos cofres estaduais. Foi de lá que saiu o tal Silveirinha que segundo Garotinho era apenas “o sub do sub”.

Sem saber mais o que dizer para ao funcionalismo estadual, a Rosinha se tornou uma metralhadora giratória. Ora põe a culpa na Bené, ora no Palocci, alegando que o décimo terceiro não sai porque o governo federal não está tratando o Rio de Janeiro com o mesmo dengo que trata aos outros Estados. Ora bolas: ele quer que a União libere o Estado da obrigação de repasse dos recursos oriundos do ICMS carioca. Mas veja: se todos os Estados deixarem de cumprir suas obrigações fiscais para com a União de que viverá o país? Deixemos, então, que os servidores encontrem os culpados pelo não pagamento de direitos trabalhistas.Mas tentarei ser outra vez um otimista e acreditar num futuro melhor para o Brasil. É o que me resta, afinal sou brasileiro, com muito orgulho e com muito amor. Não me permito acreditar que um presidente vindo do povo possa passar para o outro lado só porque agora ele tem estilista para calçados personalizados, escreve com Pena e veste Armani.