segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Jornalismo 2.0



O jornalismo 2.0 é novo e como tudo o que nasce traz o frescor da mudança, com promessas de prosperidade e muitas incertezas. Dizer que sabemos onde essa onda gigante vai desembarcar é chover no molhado. É bom admitir logo: somos ignorantes!

Mesmo assim, podemos vislumbrar, imaginar, conhecer e principalmente deixar o novo chegar e derrubar nossas certezas. Ninguém é dono dessa verdade. O conhecimento agora é de domínio publico, não pertence a ninguém e ao mesmo tempo é de todos nós!

Esta CARTA DIGITAL DE ITU pretende alinhavar princípios, organizar conceitos, coletar experiências, fomentar idéias e propor um caminho colaborativo que, assim como o jornalismo 2.0, está sempre vivo e em constante mudança.

Elaboramos, portanto, as primeiras palavras e intenções. Uma pedra fundamental, não a verdade absoluta. Queremos inspirar em vez de ditar regras. Até porque estamos falando de um novo mundo, do qual alcançamos uma pequena parte. Há muito ainda para ser mapeado e inúmeras questões para serem resolvidas. A palavra jornalismo pode ser a mesma, mas seus significados são radicalmente diferentes. E vamos aprendendo enquanto navegamos!

Princípios & Conceitos

- Autoria colaborativa: é feito por todos e para todos. Um parágrafo escrito por você pode ser linkado e relacionado a outras pessoas, conceitos e páginas, incorporando dezenas ou centenas de autores.

- Perenidade: a notícia não morre, os fatos nunca estão consumados, estão sempre vivos.

- Não precisa de grandes corporações intermediárias: pode acontecer de cidadão para cidadão

- Exige uma mudança de atitude: menos poder e mais talento

- Está apoiado mais nos relacionamentos do que nos conteúdos: quem tem uma boa rede vai mais longe.

- Interação direta com o leitor: quem me lê não está lá, está aqui!

- Interatividade: um jornalismo que interage 24 horas por dia com as mídias, pessoas e conteúdos relacionados.

- Humanidade: em vez de “usar fontes”, interage com pessoas.

- Conexão: um jornalista 2.0 não está mais sozinho; tem a rede junto com ele.

- One-to-One: esqueça respostas padrões ou automáticas.

- Velocidade: tempo real na rede.

- Poder descentralizado: o detentor da informação se transforma em divulgador da informação.

- Afinidade: não temos mais reféns, temos fãs!

- Ética: liberdade pede mais responsabilidade. O jornalista 2.0 tem o poder da escolha.

- Profundidade: a informação é de domínio público. A qualidade da informação depende de cada um.

- Aprendiz: o jornalismo 2.0 é aprendiz em sua essência.

- Desapego: é mais saudável compartilhar do que dominar.

- Pensamento hiperlinkado: diferenciando o essencial do periférico.

- Descompressão: A informação não precisa mais ser comprimida. Ela se torna ampliada e ampliável.

Tags do Jornalismo 2.0

fórum – posts – depoimentos – comunidades – rede social – mídia social – mural – links – hipermídia – chat – twitter – coletivo - tag feeds – RSS – indexação – Ajax – Mashup – mente aberta - UGC podcast – dowload – fórum - Meme - blogesfera – blog – sms

Esta carta foi produzida no evento Jornalismo 2.0 em Itu, com a coordenação e edição de Deborah Dubner e participação de: Alan Dubner, Anicleide Zequini, Armênio Guedes, Cadu Lemos, Camila Bertolazzi, Carlos Piazza, Deborah Dubner, Fabio Steinberg, José Marcio Mendonça, Manoel Fernandes, Marcelo Coutinho, Mylton Ottoni, Olga Sodré, Pollyana Ferrari, Roberto Mayer, Rodrigo Azevedo e Rodrigo Tomba. Fotos: Valéria Bertolazzi / www.itu.com.br

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Treinamento antigafe



Por Vinícius Queiroz Galvão

O novo foco em formação profissional vai além do tradicional curso de atualização. Cada vez mais preocupadas com a imagem, empresas de diversos ramos - e até o governo - têm investido no "media training", que ensina os profissionais a lidarem com a imprensa e a se sairem bem em entrevistas.

O jornalista Nélson Lemos, que trabalha com "media training" e já treinou alguns ministrosA nova aposta pretende evitar situações de saia justa como a provocada pelo ministro José Graziano (Segurança Alimentar), que, em fevereiro, vinculou a violência urbana em São Paulo à migração de nordestinos. "Temos de criar emprego lá, temos de gerar oportunidade de educação lá, temos de gerar cidadania lá, porque se eles continuarem vindo pra cá, nós vamos ter de continuar andando de carro blindado", afirmou na época.

As Câmaras Municipais de Recife e de Fortaleza aprovaram moções de repúdio contra o ministro, considerando-o persona non grata. O Senado chegou a pôr na pauta de votação uma reprimenda a Graziano, que acabou sendo retirada.O Planalto, então, criou uma divisão de "media training" só para habilitar ministros e funcionários do alto escalão a darem entrevistas. "O 'media training' é importante e ajuda a criar um melhor diálogo com a imprensa", diz Graziano, um dos primeiros a serem treinados no governo.

Não foi só o governo que esteve nas páginas dos jornais pela saia justa causada por erro na comunicação. O time do Palmeiras passou por um mal-estar em junho, quando os jogadores ficaram dias sem falar com a imprensa, depois de alguns atletas terem negado as declarações de insatisfação com o técnico Jair Picerni que tinham sido publicadas.

Segundo as assessorias de imprensa, o principal objetivo do "media training" é preparar as pessoas para o relacionamento com a mídia."Da mesma forma que as pessoas se preparam para reuniões e apresentações de negócios, também devem se preparar para dar uma entrevista. O executivo tem de saber como lidar com a frustração de, depois de dar uma entrevista de uma hora, não ler o resultado desejado no dia seguinte", diz a jornalista Ana Julião, cuja assessoria já treinou profissionais de organizações como Bradesco Seguros, AmBev, Telefônica Celular e Petrobras.

Uma pesquisa da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) revela que as cem maiores empresas brasileiras já fizeram "media training" com seus diretores. "Hoje, uma empresa e seus representantes não podem ser analfabetos em comunicação. Existe uma necessidade cada vez maior de as pessoas se habilitarem nessa área", diz Paulo Nassar, diretor-executivo da Aberje.

"Já trabalhei com diretores de empresas que criavam dificuldades para se relacionarem com a imprensa e hoje compreendem a importância de ter um bom relacionamento", diz o jornalista Nélson Lemos, que treinou os ministros José Graziano, Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Jaques Wagner (Trabalho e Emprego).As empresas chegam a pagar R$ 20 mil por um dia de curso para até cinco pessoas, investimento que inclui treinamento com repórteres em atividade em telejornais, com direito a estúdio e cinegrafista.

O "media training", no entanto, não ensina apenas a falar com poder de síntese ou a olhar diretamente para a câmera. O conteúdo dos cursos ensina truques para conduzir uma entrevista e indica como agir diante dos repórteres e como usar estatísticas e gráficos como dados, entre outros temas. Os treinamentos sempre têm exercícios práticos, em que se fazem simulações de entrevistas."Hoje, podemos dizer que nossos porta-vozes estão preparados para qualquer entrevista, além de serem mais didáticos, já que nosso negócio — mercado de satélites — é muito específico", afirma Cláudio Baptista, gerente de marketing da Star One, empresa de telecomunicação do grupo Embratel.

O "media training" não se restringe a corporações. A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) distribui para seus profissionais uma cartilha com dicas para que professores e médicos possam ter um bom relacionamento com a imprensa. Ironicamente intitulado de "Corra que a Imprensa Vem Aí", o manual aponta gafes cometidas e dá dicas sobre a melhor forma de atender um repórter.

Hospitais também aderiram ao treinamento. "O 'media training' foi importante para compreender que as informações devem ser passadas da forma mais leiga possível, concisa e pontual, pois o público em geral nem sempre entende os termos técnicos que nós usamos", diz o médico José Antônio de Lima, diretor do Hospital Samaritano.Para o jornalista e crítico de comunicação Alberto Dines, o "media training" quer se aproveitar das falhas da mídia. "O que eles querem é ensinar as empresas e o governo a tirarem proveito das deficiências e das mazelas da imprensa", diz.

Mayra Rodrigues Gomes, professora de ética e filosofia da linguagem do Departamento de Jornalismo da USP, concorda em parte. Mas também defende o treinamento. "Há jogada de mercado, eu concordo. Mas tem utilidade para o executivo se forem mostradas estratégias que são constantes, jogos de linguagem com que seja possível interferir na significação e, portanto, direcionar a leitura para um lado ou outro", afirma
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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Jornalismo com Ética



Pensar a ética jornalística no dia-a-dia das redações é antes de tudo cobrar do repórter responsabilidade na apuração e redação dos fatos. Definir o que é notícia e mostrá-la de forma verdadeira e clara, deixando de lado todas as convicções partidárias à pauta para refletir no texto apenas o que foi apurado in loco. Caso esta regra clássica não possa ser cumprida é melhor deixar a pena de lado e a matéria apenas na cabeça de quem a pensou. No jornalismo ético só há lugar para opiniões em colunas, artigos e editoriais.

No livro “A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística”, Nilson Lage mostra os efeitos colaterais da “parcialidade” no jornalismo. “Quando os militares autorizaram a instalação de empresas de seguro-saúde no Brasil, a Golden Cross montou um setor de atendimento aos jornalistas de onde partiam denúncias contra os hospitais públicos. Julgando estar prestando um serviço e combatendo a ditadura, vários jornalistas acabaram ajudando a empresa naquele início difícil dos “negócios” quando o atendimento público de saúde ainda tinha uma imagem boa.”

Outro caso que precisa ser analisado sob o ponto de vista ético é a entrevista concedida pelo jornalista Dan Rather, principal âncora da rede americana de televisão CBS, ao programa de David Letterman (26/01/01). Enquanto falava sobre os atentados terroristas de 11 de sentembro, quando Bin Ladem ordenou a destruição das torres gêmeas (World Trade Center) e do Pentágono, Rather chorou três vezes e se colocou a disposição do então presidente dos EUA George Bush: “Como americano, ele terá o que quer de mim.” O que dizer desta postura?

Já o jornalista Robert Fisk, um dos mais respeitados correspondentes no Oriente Médio, resenhou: “O mundo será levado a acreditar nos próximos dias que presenciamos uma luta da democracia contra o terrorismo; na verdade, os atentados têm muito a ver também com mísseis americanos caindo sobre lares palestinos; com helicópteros americanos jogando mísseis em uma ambulância libanesa em 1996; e com uma milícia libanesa – paga e uniformizada por Israel, o fiel aliado americano – cortando, estuprando e matando refugiados em seu caminho. E com muito mais”.

Todo repórter/redator/editor que respeita a si e a profissão que abraçou precisa ser analítico. Não pode comprar "meias verdades" e nem acreditar em “embalagens”. Tem que investigar a fundo toda e qualquer informação. Uma pauta só é resolvida quando todos os porquês são respondidos de forma satisfatória e não há mais dúvidas no ar. Isso é jornalismo ético e sério.

Luiz Garcia, editor de opinião do jornal O Globo, ensina: “Um homem público acusa outro de um delito qualquer. E temos a infantil ingenuidade de achar que o problema se resolve ouvindo o outro lado. Fulano diz que Beltrano é ladrão de galinhas – e Beltrano nega. É uma postura preguiçosa, que contribui para a impressão de que a imprensa brasileira é viciada em denuncismo. Nossa obrigação não é simplesmente ouvir os dois lados, e sim apurar o que há de verdade na história. Inclusive, se for o caso, para concluir que não há história”.

“O senhor não chamou o meu procedimento de desumano, pelo contrário, de acordo com sua percepção mais profunda, o senhor o considera o mais humano, o mais digno de todos, o senhor também admira este maquinismo”, diz o personagem de Franz Kafka (Na Colônia Penal), ao visitante encarregado de opinar sobre o cruel sistema de punição ao condenado sem qualquer direito de defesa.

É hipocrisia criar uma ética particular para justificar qualquer ato de nosso interesse. Segundo Maquiavel, “é ético o que interessa ao bem comum e não o que interessa meramente ao príncipe”. Acredito ser esta a linha mestre a ser seguida nas redações. Ética, honestidade e trabalho sério “não devem ser adjetivos ou penduricalhos gramaticais na vida do profissional de comunicação”, mas prática diária do jornalista.