quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Tempos Modernos

Está difícil saber quem tem razão: os camelôs, que lotam as ruas e calçadas do país com seus produtos piratas e contrabandeados do Paraguai; a Polícia Militar que diz não ser omissa, mas age de forma truculenta e usa a ‘porrada’ como instrumento de regulação; a população que compra vorazmente estes produtos ou os governos que fecham os olhos para o problema do desemprego e aceitam, por baixo dos panos, o contrabando de CDs, DVDs e eletroeletrônicos que são comercializados todos os dias nas ruas.

Estes últimos são os piores porque com a permissão subsidiada no medo da perda de votos fecham os olhos para a ‘podridão’ sob a idéia de que ‘é melhor manter os trabalhadores Na informalidade do que criar potenciais bandidos’, mas que de hora para outra manda a PM baixar o cacete nestes mesmos eleitores.

Contudo, temos ainda que queimar os miolos tentando entender porque a população que reclama da obstrução dos passeios públicos é a mesma que movimenta o comércio ilegal a cada dia que deixa de comprar um DVD original por R$ 20 e compra três piratas por R$ 10 sem se importar com a qualidade, com o desemprego gerado nas produtoras, gravadoras, no comércio e em toda a cadeia produtiva.

Temos ainda os ‘homens da Lei’ que obrigam os trabalhadores informais a “pedirem pra sair”, mas de onde: do sub-emprego, da miséria, da fome, da marginalidade, da opressão, da guerra pelo pão, das filas do Serviço Nacional de Emprego - que só apresenta vagas para os “preparados”, mas esquece de dar acesso à qualificação para todos? A PM cumpre ordens, mas, despreparada, usa a força para fazer valer seu alto tom de voz, já que a justiça é cega, surda e muda.

Num país onde a fome, a falta de saúde e de educação imperam fica difícil encontrar e separar culpados de inocentes. Todos por aqui têm culpa e são vítimas de todo este processo. Não temos, nós cidadãos, como oferecer vagas de emprego porque nem mesmo conseguimos formalizar micro e pequenas empresas com facilidade como em outros países; e são estas as primeiras e maiores portas de trabalho formal. E ainda assim, sem dar nem mesmo ‘a vara para pescar’ cobramos dos humilhados o peixe grande e saboroso.

Os informais querem trabalhar e não pedir esmolas, mas não querem usar o tempo que sobra para estudar nos poucos cursos gratuitos oferecidos pelos governos ou nos demais oferecidos por organizações não-governamentais. Sempre há uma desculpa: cansaço, falta de grana, de tempo, de vontade, falta de acessibilidade, de informação... É mais fácil pedir dinheiro emprestado para comprar uma passagem de ônibus para o Paraguai e trazer muamba do que pedir um vale-transporte para ir à escola! Afinal de contas, ser ‘coitado’ no Brasil rende pelo menos esmolas no sinais de trânsito e restos de comida nas portas dos mais ricos.

Enquanto for assim, vamos continuar vivendo esta tríade: miseráveis, opressores e governantes. E nesta batalha, os de ‘colarinho branco’ continuarão dominando a roda da fortuna. Afinal de contas, deixar vender ‘o que for’ nas ruas dá voto; mandar bater também, e pedir desculpas mais ainda!

*Robson Fraga é jornalista da TV Rondon (SBT), em Cuiabá - MT.